O projeto recuperou a fachada de um edifício que aloja oficinas. Com cores quentes e vibrantes, algumas formas surrealistas e plantas, tem como tema a relação humana com a natureza e pretende fazer uma ligação ao Parque da Várzea.
Mas afinal quem é este “jardineiro” da cidade que tem no nome a imensidão dos oceanos? Estivemos à conversa com o artista e contamos-lhe tudo para que conheça o homem por trás da obra.
Gonçalo Mar tem 44 anos e é formado em Arquitectura de Design de Moda, pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa. Foi a convite da autarquia de Setúbal que projetou os “Jardins Efémeros”. O título foi escolhido porque “sugere uma verdade intrínseca à própria pintura mural que é a sua efemeridade”, explica ao InspireSetubal.
Natural de Lisboa, é apaixonado por desenho desde criança. “Lembro-me de ir com o meu irmão gémeo, no Verão, à Costa da Caparica, isto nos anos 80, e comprar livros da Marvel nos pontões das praias, onde faziam aquelas feiras e vinham os velhotes de Lisboa com os livros que na altura não havia na margem Sul”, recorda.
Nos seus trabalhos procura o surrealismo figurativo. “Continuo ainda a criar uma realidade alternativa com personagens que vou construindo à medida dos ambiente que vou criando”. Quanto à técnica, “será sempre o spray/parede e depois o pincel”, embora confesse que gosta muito de esboçar a lápis. “Parece-me sempre muito relaxante e espiritual”, assegura. “Quando começas a desenhar parece que alguma coisa te puxa para seguires a linha”.
Gonçalo seguiu essa linha que o puxava quando teve um acidente de carro, sem grande gravidade, e decidiu que tinha de dedicar mais tempo àquilo que mais o satisfaz. “Fez um clic aqui dentro e pensei que seria bom aproveitar mais a vida e dedicar-me inteiramente a fazer aquilo que mais amava e amo que é a pintura”.
Olhando para a tela da Várzea saltam à vista os tons intensos em contraponto com outros mais suaves. É uma das marcas do trabalho do artista. “As cores são a base do meu trabalho, elas compõem sempre tudo. Trabalho em contraste com cores que eu chamo de cores de pastilha elástica, aqueles rosas choque, os azuis água e muito celestiais e os violetas suaves”, revela.
Gonçalo não avança para o mural sem “um grande trabalho de pesquisa e conceito”. Precisa de se “sentir confortável e conseguir visualizar na mente” o que quer alcançar. Chegado a esse ponto, “o traço fica mais solto e mais espontâneo”, garante.
Hoje vê-se como um artista urbano, um muralista contemporâneo, mas quando começou, em 1998, as coisas eram diferentes, andava “meio clandestino”. Não esquece o primeiro graffiti que fez até porque foi logo apanhado. “Foi nos Olivais junto à linha de comboio por trás de uma piscina privada. O dono percebeu e chamou a polícia”, conta. Depois disso ainda lá voltou para acabar o trabalho e nunca mais conseguiu parar.
O Graffiti, reconhece Mar, “ainda é marginalizado, o que é aceite é o chamado StreetArt”. E embora acredite que o esforço dos artistas ajudou a mudar a mentalidade, sublinha que “o Graffiti por razões históricas e por definição direta tem de se manter marginal, quando deixar de ser marginal deixa de ser Graffiti”.
De espírito livre, sempre em busca de algo que lhe sirva a inquietude da mente, Gonçalo Mar tem deixado a sua marca na cidade. Estes “Jardins Efémeros” juntam-se a outras obras que já criou e transformam espaços inesperados de Setúbal em lugares arrebatadores e surpreendentes.