Inspira-nos perceber que, mesmo sem sairmos de casa, somos engenheiros, professores, gestores... Que nos reinventamos a cada novo desafio. Que montamos “um centro de comando” no meio da sala de estar para dar aulas aos miúdos e participar nas reuniões de trabalho.
Inspira-nos saber que num estalar de dedos nos unimos para ajudar os outros, nos reorganizamos para fazer máscaras, mesmo sem perceber muito de costura, que em vez de termos a esplanada do restaurante cheia, começámos a servir refeições para fora, que no lugar dos turistas, nos nossos hotéis estão os profissionais de saúde. E sabem? São recebidos com o mesmo sorriso, com o mesmo cuidado ou, se tal for possível, ainda com uma atenção maior.
Inspira-nos, tanto, saber que nos deixam um cesto com limões e laranjas à porta de casa, que há um recado na entrada do prédio e na farmácia do bairro com um número de telefone de alguém que se levanta para ajudar.
Falávamos muito das redes, da entreajuda, da solidariedade, mas será que sabíamos o seu verdadeiro significado? De repente, ficou tão evidente o que realmente importa. Ficou claro que para nos protegermos temos de saber tomar conta uns dos outros.
Há quem diga que tudo isto é uma lição, uma lição da natureza. E sabem o que mais nos inspira? Saber que ela se está a curar, a reequilibrar. E quando voltarmos… Ah!.. Quando voltarmos a Arrábida vai estar ainda mais verde e o Sado ainda mais azul. Esta terra única que nos tira o fôlego, respirou fundo e vai voltar a receber-nos.
Quando voltarmos, o Bocage, o nosso poeta, vai estar lá, sereno, no cimo da coluna. A calçada portuguesa vai voltar ao seu “toc toc” e no mercado do Livramento, que é dos mais belos do mundo, vai cheirar a mar e a flores.
Inspira-nos acreditar que vamos sair disto ainda melhores, mais fortes, mais conscientes. Inspira-nos saber que, no fim de contas, aconteça o que acontecer, seremos mais humanos e a vida está à nossa espera!