Leva-o a correr o mundo, da Antártida à Índia. Fica horas, congelado no mesmo lugar, à espera do momento. Mas é em Setúbal que Pedro Narra, 43 anos, fotógrafo de natureza, tem conseguido captar alguns dos instantes mais incríveis da vida selvagem.
As suas imagens, algumas publicadas na National Geographic - Portugal, outras em exposições ou livros, captam os bichos, como lhes chama, no seu estado mais puro. De todos os animais, tem vindo a interessar-se pelo Homem.
Narra diz que tem a sorte de ter nascido e de viver em Setúbal. Nós concordamos. É do estuário magnífico que retira algumas das mais belas fotografias. E estará sempre ligado aos golfinhos, que o levaram a fundar, em 1998, a empresa Vertigem Azul, com Maria João Fonseca.
Desde tenra idade, passava as férias escolares no Alentejo mais propriamente na Amareleja. Como fui criado no campo, tinha duas opções ou andava com a espingarda de pressão de ar, fisgas e montava armadilhas, o que aconteceu durante alguns anos, ou mudava para a fotografia. Qualquer destas opções fez-me estar perto da natureza. Depois, mais tarde, escolhi a segunda opção.
A natureza. A natureza é isso, simplicidade, beleza, silêncio ou não, as cores... cada vez mais dou importância às cores e formas. Depois todo o comportamento das espécies.
Estou a fotografar pessoas pela primeira vez para um projecto que estou a desenvolver, achei que, para ficar completo, as pessoas tinham de entrar.
Depende do que estou a tratar. Antes de fotografar, o trabalho de casa já está a ser feito há muito tempo. Estudar as espécies, comportamentos, habitats, e depois alguma sorte. Estive mais de 15 anos para ver uma lontra e depois quando a vi pela primeira vez não tinha o equipamento fotográfico comigo, no dia seguinte regressei ao local e demorei apenas algumas horas. Depois, já regressei várias vezes e nada...
Tive uma situação que nunca mais esqueci. Os guias tinham acabado de localizar um grupo de gorilas nas montanhas dos Virungas no Ruanda. Fui o primeiro do meu grupo a chegar ao local e comecei a fotografar. Estava focado nos animais à minha frente. Passado uns breves minutos, sinto alguém a tocar-me no braço. Sabia que estava sozinho o que era mais estranho. O toque era especial... deixo de fotografar para ver o que queriam e era um gorila juvenil! Ainda hoje sinto esse toque! Há muitos momentos que fazem com que este trabalho seja gratificante e ao mesmo tempo nos permita conhecer o mundo em que vivemos e que não estamos a encarar como prioridade. O planeta está a ser mal tratado e isso vai causar muito sofrimento humano.
Adorava ver todos os bichos do planeta e conhecer o mundo. Infelizmente, a esperança média de vida de um humano não me vai permitir isso. Tento ver os mais emblemáticos, os que estão nos sonhos de criança, os que vão desaparecer. Adorava ver os ursos polares, os narvais, belugas e as morsas. Em Portugal, gostava de ver os lobos.
A fotografia estará sempre ligada aos golfinhos do Sado. Foi com eles que comecei profissionalmente, a primeira imagem que vendi foi de um golfinho do Sado, o primeiro artigo que publiquei na revista National Geographic - Portugal foi sobre os golfinhos do Sado e o meu primeiro livro foi sobre eles.
Não sei, não sou de quantidade mas de qualidade.
Depende na natureza nem sempre o melhor é quando queremos. Posso sair para o campo ou mar com uma luz brutal. Tudo de feição e os bichos não aparecerem ou estarem moles, ou não fazerem nada simplesmente, e quando começa a estar bom a luz mudou e não fica nada de especial.
Tenho sorte de nascer e viver em Setúbal. Tenho tudo à mão num raio de 20 quilómetros. O meu mais recente trabalho e livro “Estuário” mostra isso. Foi realizado no estuário do Sado. Não preciso de me deslocar muito para ver e fotografar toda a natureza envolvente.
Tenho sempre dois projectos em simultâneo, quando estou a meio de um retomo outro. Não gosto de estar muito tempo sem dar ao dedo, preciso de sonhar, criar estar com a cabeça ocupada.