A praça do Bocage, que já foi do Sapal, é o centro da cidade. É aqui que bate o coração de Setúbal, mesmo em linha com o Sado num namoro permanente.
Há rimas nas conversas de café que se prolongam nas tardes quentes e luminosas. Há métrica definida nos passos apressados de quem vai e vem do trabalho e, sem dar conta, pisa a calçada portuguesa e a mármore colorida, com desenhos que se tornam ainda mais bonitos numa vista aérea.
A Baixa comercial é a vizinha intrometida. Cheia de boa energia entra praça adentro, com novos negócios, onde prevalece o que de mais sadino os sadinos têm. Dos muitos edifícios e equipamentos, lojas e cafés que acompanham Bocage, a Casa da Cultura é dos mais recentes. Abriu a 5 de outubro de 2012 e trouxe nova dinâmica ao espaço onde está também a Câmara Municipal e a belíssima Igreja de São Julião.
E lá em cima, bem alto, está Manuel Maria Barbosa du Bocage. Permanece elevado e vigilante desde 1871, data em que a estátua foi inaugurada. Cinzelada em Lisboa, foi mandada fazer com fundos angariados no Brasil e, em Portugal, por iniciativa de António Feliciano Castilho.
Assim que o poeta se ergueu, vestido de mármore branco, sobre uma coluna coríntia assente em quatro degraus, a praça mudou a designação e tomou-lhe o nome.
Contemplar talvez seja o verbo que melhor encaixa nesta narrativa onde há personagens incontornáveis como o vendedor de castanhas ou o artesão (Jacinto Tadeu) que faz bicicletas de ferro e as vende à porta da igreja.
E Bocage lá está. Com a cabeça ligeiramente inclinada, uma pena na mão direita e algumas folhas de papel na outra. Estará a escrever este poema que se chama Setúbal.