Em pleno centro histórico, entre o Largo da Misericórdia e o dos Defensores da República, há muito para ver, fazer e provar. Das lendas, aos sabores da terra, da arte de bem receber à de bem comer, contamos-lhe tudo ... ou quase, porque o melhor mesmo é sair à rua. Literalmente.
É a antiga rua de São Sebastião. Ganhou um novo nome para homenagear António Casimiro Arronches Junqueiro aqui nascido em 1868. Mas quem foi este homem e o que fez para merecer ter o nome nesta magnífica rua?
Jornalista, poeta, autor teatral, arqueólogo e zoólogo. Dedicou-se desde jovem ao estudo da fauna e flora da região. Deixou mais de duas dezenas de obras e um legado de conhecimento que permanece.
Quer seja a subir ou a descer, sente-se o abraço do casario, ouve-se a conversa de gente genuína na ombreira da porta, inspira-se o cheiro da sardinha assada e das flores. Descobrem-se novos projetos, conhecem-se pessoas que teimam em ficar, outras que acabaram de chegar.
É este burburinho entre o toc toc nas pedras da calçada que nos vai dizendo que o coração de Setúbal bate.
Largo da Misericórdia, 4
A nossa sugestão é que comece o percurso no Largo da Misericórdia. Na geladaria Valenciana, peça uma carapinhada, de laranja ou limão, ou uma bola de gelado e siga caminho. Se estiver com tempo, sente-se e saboreie um esparguete gelado.
Esta casa está na Baixa de Setúbal desde 1938, há mais de 80 anos, e sabe o que faz!
Rua de Arronches Junqueiro, 126
São 200 metros quadrados de arte, fotografia, ilustração… Esta galeria está organizada em cinco áreas diferentes. Duas salas de exposição, uma black box, um espaço de loja onde podem ser adquiridas fotografias, ilustrações e edições de autor a preços simpáticos e, ainda, uma área de lounge que convida a uma pausa para um chá ou café enquanto lemos ou passamos em revista na nossa mente o que acabámos de ver.
Rua de Arronches Junqueiro, 103
Entre numa das melhores tascas que alguma vez vai conhecer e reserve mesa para mais tarde (quando voltar vem com mais apetite). A Adega dos Garrafões é à antiga portuguesa. Tem iscas, pataniscas, feijão frade e vinho a copo. Mas também ostras do Sado, bifes e um sem número de pratos do dia, que vão das favas com entrecosto ao cozido à portuguesa.
Aqui vai conhecer ou recordar figuras típicas da cidade, como o Zé dos Gatos e o Ervilha, através de fotografias que honram a memória coletiva.
Rua de Arronches Junqueiro, 95
Aqui mora a oficina de reciclagem criativa de Eugénia de Almeida. Na Reborn, materiais habitualmente descartados, como revistas e jornais lidos e relidos, renascem em bonitas peças de bijuteria ou decoração. Reciclar é a palavra de ordem nesta casa onde não falta o design e o bom gosto. O que acha de uns brincos feitos a partir de uma lata de refrigerante ou de um colar criado com um CD? Aproveitar e reutilizar está na moda, mais do que nunca!
Rua de Arronches Junqueiro, 79
Foi nesta galeria que foram criados os famosos bonecos que estão no Parque do Bonfim e representam Setúbal e os setubalenses de uma forma original e divertida.
No espaço da loja, pode encontrar várias versões dos Pasmadinhos, em tamanho portátil, mas há muitas outras peças, tanto de decoração como utilitárias, esculturas e telas. Todas únicas e feitas de forma artesanal.
Rua de Arronches Junqueiro, 80
O número 80 esconde um segredo incrível. Aqui, onde hoje está o Day Off Hostel, já se ouviram máquinas de escrever a fervilhar e, mais tarde, computadores, a enrodilhar histórias “quentes e boas”. Este espaço foi durante anos a redação de “O Setubalense”, o primeiro jornal editado na cidade (1855) e um dos mais antigos do país. Ainda hoje se mantém nas bancas, diariamente.
O edifício do século XIX é um alojamento moderno, cheio de luz e de conforto e tem um terraço fantástico com uma das melhores vistas da cidade!
Rua de Arronches Junqueiro, 76
Não deixe de parar no Breakfast Club. Aproveite para petiscar e conheça um empreendedor de mão cheia que nos enche a barriga em três tempos. Além de umas panquecas maravilhosas e de uns ovos benedict no ponto, há brunches, hambúrgueres e poké bowls.
Entre e perceba numa garfada e em dois dedos de conversa como é que esta rua tão mágica atrai forasteiros que trazem novos conceitos e, em menos de nada, já fazem parte do empedrado!
Rua de Arronches Junqueiro, 8
Esperemos que não tenha abusado na paragem anterior, é que o número 8 é o mais guloso de todos. Alberga o Cegastradições, um atelier de doçaria premiado. Conheça a Paula e a Francisca, as duas alquimistas do açúcar. De forma única e artesanal, prestam homenagem aos doces regionais reinventando-os e criando tentadoras delícias.
Eis que chega à Porta do Sol. Com sorte, talvez se cruze com a Moura Encantada é que reza a lenda que há muito anos, um pescador e uma bela moura aqui viveram uma bela história de amor. Ao descobrir o romance, entre os dois amantes que se encontravam aqui, perto do miradouro, o pai da rapariga encantou-a, fazendo-a desaparecer até que acabasse a fome, a guerra e a inveja no mundo.
É uma das portas que restam da muralha medieval do séc. XIV. Conservado o perfil gótico é um bonito portal, carregado de simbolismo, já que terá sido também a partir daqui que a cidade se expandiu.
Rua de Arronches Junqueiro, 3
Chegado ao Largo Defensores da República vai encontrar o Museu do Trabalho onde está o espólio etnográfico de Michel Giacometti. A entrada custa 1,5€ e vai transportá-lo aos tempos áureos da indústria conserveira, não tivesse funcionado neste mesmo local a antiga fábrica de conservas Periene. Vai ficar encantado com a Mercearia Liberdade, uma loja típica que esteve em funcionamento durante um século na avenida da Liberdade, em Lisboa, e que agora está intacta, tim tim por tim tim, no museu.
Termine com esta vista fantástica, num dos lugares mais românticos da cidade.
Volte ao ponto de partida, repita o passeio as vezes que quiser e descubra detalhes únicos a cada regresso. Não se esqueça de os partilhar connosco!